Hacktudo 2019: Festival de Cultura Digital | Como foi?

Minha aventura pelo Hacktudo 2019




Durante os dias 26 e 27 de outubro a Cidade das Artes (RJ) recebeu o Hacktudo, festival de cultura digital. O evento, de entrada franca - menos o Hack Conference - trazia oficinas criativas para crianças e jovens, palestras, batalhas de robôs, corridas de drones, exposições, e maratonas de programação. Tinha muita coisa bacana para amantes de computação, tecnologia em geral, profissionais da área, designers, estudantes, e geeks. Eu atendi ao 1º dia - não fui no domingo por problemas de condução para mim - e aqui eu quero contar sobre a minha experiência no evento.



Eu ouvi falar sobre o evento por meio das propagandas no metrô. Como gosto de tecnologia em geral, pesquisei mais sobre o Hacktudo e li o release no sie oficial. Eu tinha um trabalho de Jornalismo Impresso II para ser feito, e como ainda estava sem pauta, vendi esse evento para o meu professor, aproveitando as palestras e oficinas sobre a participação de mulheres no mercado de TI, achei um tema interessante de se tratar. Pauta aceita, me preparei para o dia. Conversei com a assessoria de imprensa do evento, e fui como imprensa, o que me deu acesso ao Hack Conference, o que seria muito útil para o desenvolvimento do meu trabalho acadêmico.

Acordei bem cedo no sábado dia 26. Tive que pegar três conduções para chegar na Cidade das Artes: um ônibus até a Pavuna, metrô até Vicente de Carvalho, e lá um BRT até o Terminal Alvorada. Quando cheguei lá, era por volta de 11:30.


Por sorte a passagem subterrânea leva direto ao local do evento, então cheguei lá bem rápido.


A Cidade das Artes é localizada no coração da Barra da Tijuca, é um complexo cultural inaugurado em 2013, espaço para as mais diversas manifestações artísticas, como música, teatro, dança, e artes plásticas. A construção erguida à 10 metros do chão, foi projetada pelo arquiteto francês Christian Portzamparc, afim de ser um moderno espaço de encontro em torno das artes.


A Cidade das Artes é rodeada por esse belo lago artificial

Quando cheguei lá, me apresentei na entrada. Por coincidência, um colega de turma da faculdade estava trabalhando lá como funcionário da organização do evento. Apena nos falamos brevemente, eu tinha horário, então subi a grande escadaria até o segundo piso, onde ficava a bilheteria.




A bilheteria era o local para comprar os ingressos para as palestras e o teatro. Não teria como eu pagar mais de 100 reais para assistir a uma palestra (a das 14:00), isso bem distante da minha realidade de estudante, felizmente eu fui muito bem atendido tanto pela Assessoria de Imprensa, quanto pelos atendentes na bilheteria. Eu mostrei o meu QR Code que recebi da assessoria por e-mail, e em alguns minutos eu já estava com uma pulseira laranja, que me dava acesso às palestras da Hack Conference (embora eu só tenha assistido uma), algo que seria essencial para o meu trabalho. Era uma pulseira de papel, eu tinha que tomar muito cuidado com suor, movimentos bruscos, e líquidos em geral. Apesar desse detalhe, a pulseira aguentou o dia inteiro, e gostei de usar ela.



Eu fui ao Hacktudo principalmente para entrevistar alguém e atender à uma palestra para um artigo sobre a participação das mulheres no mercado de TI, tanto para o blog aqui, quanto para o trabalho de faculdade. Nesse texto não irei falar sobre essas experiências, deixarei para outro dia, quanto tudo estiver pronto. Enfim, meus compromissos realmente só terminaram às 16:00 horas.


Realidade Virtual no Hacktudo





VR é algo que eu sempre quis experimentar, apesar de eu não ter o interesse de usufruir dessa tecnologia no meu dia-a-dia. Nas duas vezes que fui ao Museu do Videogame Itinerante (2017 e 2018) eu não consegui experimentar o Playstation VR, por causa das enormes filas. Porém, dessa vez testar os óculos foi bem mais fácil. Como eu cheguei lá ainda bem cedo, as filas ainda estavam bem pequenas. Haviam três óculos, e o revesamento acontecia em alguns poucos minutos. Enfim chegou a minha vez. O que eu vi era uma simulação de um conceito de um "transporte do futuro". Se eu tivesse que descrever a simulação seria: você é um passageiro, sendo transportado de uma estação até outra. O veículo de início parecia uma avião pequeno, mas olhando para os lados, o formato se assemelhava ao de um drone. Era um drone gigante, onde cabiam até 5 passageiros (três na frente e dois atrás), e parece que não havia piloto. Levantávamos voo e até passávamos por dentro de uma nuvem, até chegar na próxima estação.

As estações ficavam em prédios enormes, quase que todos feitos de vidros. O jeito como as coisas era organizadas me lembrou do VLT. Ao aterrizar, a plataforma travava e descia alguns andares, até a por automática abrir. A viagem durava cerca de uns 4 minutos. Havia propaganda da Uber dentro do veículo, então acredito que esse projeto seja algo financiado pelo Uber. Transporte compacto, automatizado e rápido. Legal, mas como ficam os motoristas de aplicativo agora? Se bem que eu acho que o VLT já é algo automático...


Parece que nome conceito é "Leve", e essa foi a sensação que eu tive
ao "voar" no drone gigante.

Era pra alguém retirar meu capacete após o término da simulação, mas por algum motivo, os rapazes que estavam tomando conta dos VRs saíram naquele momento, então tive que assistir a apresentação duas vezes. Como eu não queria tocar no equipamento, deixei tocar. Realmente, depois de um tempo "preso" naquela simulação, você perde noção dos seus arredores. Eu comecei a sentir uma sensação de pânico. Eu não gostaria de ficar preso em um mundo de videogame.

Pintando o Futuro




Saindo do VR, me dirigi ao [Re]Invente, uma das muitas áreas makers do 2º piso. Como a pessoa que eu queria entrevistar só chegaria perto das 14 horas, e a palestra só começaria também nesse horário, eu tinha algum tempo de sobra. 



Nesse espaço tinha um grande quadro com um desenho de casas, ruas e pessoas passeando e brincando. Qualquer um poderia pegar um giz de cera e pintar uma parte do desenho. Ao sair, podíamos levar um cartão, que dentro tinham sementes. Não me recordo quais era os três tipos de sementes disponíveis, os cartões estavam misturados. 

Essa tenda fez bastante sucesso com pais e crianças de colo. No final do dia já tinham colorido cerca de 80% do quadro. Claro que teve muita gente que aproveitou a ocasião para escrever mensagens e perfis de rede social. Eu deixei minha marca lá:



Eu desenhei esse Dio Brando lá, deixando essa referência no quadro de manhã:



Ao final do dia alguém já tinha pintado por cima.



Entre caçar um bom lugar para comer - os food trucks eram terrivelmente caros para mim - eu voltava para perguntar sempre quando a pessoa chegaria para dar a oficina "Segurança Digital", que estava programada para as 14 horas, mesmo horário marcado para o início da palestra "Mulheres em tecnologia: mercado em ascensão e cada vez mais receptivo", ambos eu precisava atender, para o meu trabalho. Felizmente eu consegui entrevistar a Ariane Cor, uma das fundadoras do projeto Minas Programam. Foi uma ótima entrevista e tudo deu certo em pouco minutos. Eu irei falar mais sobre o Minas Programam em outro post. Depois da entrevista, segui para o Hack Conference e assisti a palestra, que só começou 14:20.



O que eu assisti na palestra eu também deixarei para falar no artigo que estou escrevendo para a faculdade.

Pausa para recarregar as baterias


Tudo havia terminado lá pelas 16 horas. Resolvi sair da Cidade das Artes e procurar algo pra comer fora do evento. Felizmente consegui encontrar uma boa promoção no Bob's local, no subsolo do Terminal Alvorada. Comprei e levei o lanche de volta para a Cidade das Artes, onde comi em um espaço menos agitado no 2º piso.



Agora, se eu estivesse escrevendo para alguma redação real, eu teria que voltar correndo para lá, mas se tratar de um trabalho de faculdade, eu tinha como ficar mais algumas horas por lá.

Rio de Janeiro em bloquinhos



Quando eu era criança eu adorava brincar de Lego. Eu penso que Lego é um daqueles brinquedos que não só consegue despertar a criatividade do indivíduo, mas também consegue unir diferentes gerações em torno de uma mesma atividade. Talvez seja por isso que o salão da grande maquete do Rio de Janeiro estava lotada de pais e mães com seus filhos pequenos, todos admirando a obra.




A incrível maquete recriava todos os pontos turísticos e mais emblemáticos do Rio de Janeiro utilizando 947.000 peças de lego, um trabalho em conjunto de 50 pessoas de 4 países diferentes. Vendo de longe até parecia uma construção de Minecraft. Achei interessante como o Hacktudo 2019 uniu a tecnologia e computação (1º piso) com as areas makers mais tradicionais (2º piso). Aos fundos da sala haviam diversas peças de lego soltas, prontas para serem usadas na confecção de mensagens no grande telão que os organizadores disponibilizarão para o público. Tecnologia para muitos e exposições em geral geralmente são ações passivas, apenas vemos de longe, então essa interação e participação maior do público é uma forma de aumentar o engajamento das pessoas com o evento.



Sem ter pra onde correr



O Hacktudo desse ano abraçou o tema do desenvolvimento sustentável. Algumas muitas das exposições do 2º piso faziam referência à esse tema. Um deles foi o [Des]Ordem.



Era uma sala fechada, onde diversos telões ao redor rodavam um vídeo em loop. O vídeo simulava as diversas mudanças repentinas e bruscas de clima ao redor do mundo. Quando começava a chover no vídeo, ventiladores enormes sopravam dos quatro cantos. Quando as fumaças das chaminés ficavam muito fortes, fumaça de efeitos especiais era liberado aos poucos dentro da sala. Uma experiência imersiva que te pega de surpresa na primeira ida.

Do lixo ao luxo

Essa foi a exposição que eu mais gostei:




A exposição Animales trazia obras do artista plástico  e designer Jota Azevedo, um grande fã de ficção científica e robôs, que reaproveita sucata eletrônica para construir naves, robôs, retratos e outras peças. Pense em todo o produto eletrônico do dia-a-dia que é descartado, como TVs, videogames, câmeras fotográficos, etc. É o smartphone que saiu de linha, a TV de tubo que foi substituída, o videogame velho que você não joga mais, e por aí vai, não paramos de produzir lixo eletrônico, e com a crescente evolução desses dispositivos, não temos dado a devida atenção à forma como esse material é descartado. Só em 2016, o volume de E-lixo no mundo foi de 44.7 milhões de tonelada, o que é equivalente à 4.500 Torres Eiffel. O Brasil em 2016 liderava o ranking da América Latina de geração de E-lixo, sendo 1,5 tonelada, e tendo o pior nível de reaproveitamento, ficando com apenas 3%.


Wall-E?
Robô simpático tamanho família

O trabalho de Jota Azevedo dava novo significado à placa mãe antiga, ao aspirador de pó velho e outros gadgets que estariam se decompondo no lixão hoje. Os resultados são surpreendentes, algumas obras representavam animais, já outras inclinavam para a ficção cientifica.



De novo o Hacktudo mesclando a temática de cultura digital com sustentabilidade. Ficou genial, ou melhor, ficou animal!


Utensilhos comuns (como pistolas de cola quente) também eram usados 
Hum... Quem será esse robô?
Parece um veículo do Metal Slug



















Uma mensagem para o futuro

Chegou a hora de eu subir um pouco mais e olhar o que tinha no 3º piso. O exposição [Des]Humanidades também explorava a consequências do aquecimento global e depredações do meio ambiente, porém de uma forma mais interativa. Após passar pelo hall com clip, a sala seguinte disponibilizava grandes monitores com as informações e gráficos para as pessoas lerem. 




Todos os monitores eram sensíveis ao toque, e as pessoas livres para avançarem ou voltarem telas anteriores. No centro havia um jogo em que as crianças tinham que arrastar diferentes tipos de lixo até o destino adequado. Essa era uma outra sala que estava cheia de parentes com crianças pequenas, crianças dessa geração respondem melhor à telas touch, então percebi bastante interesse por parte delas, afinal, quem não iria querem brincar com um smartphone/tablet gigante?




Jogo que as crianças se amarraram

Infelizmente a sala seguinte estava fechada no momento que eu estava na fila, e como eu não tinha muito tempo sobrando para esperar, saí pelo outro lado e fui ver as fitas.




 Cada pessoa poderia cortar um pedaço de fita, pegar um marcador na mesa ao lado, e escrever uma mensagem nela. A fita seria amarrada em algum espaço sobrante na estrutura montada do lado de fora da exposição [Des]Humanidades. O vento que sobrava na hora deixava a paisagem ainda mais linda.


Essas pilastras eram envolvidas em grandes telas, que rodavam
vídeo mostrando diferentes paisagens naturais e urbanas

É claro que eu tinha que deixar algo lá.




Das mensagens que ei li nas fitas, a que mais me marcou foi essa: "Não tenha vergonha! Cate lixo na praia." Não sei quem escreveu, mas te desejo tudo de bom.



Perguntei a uma das garotas da organização e ela me disse que as fitas seriam todas recicladas depois.

Aprendendo com os mestres


Escultura feita de material reciclado no 2º piso

Já estava escurecendo, e eu tinha que pegar o meu ônibus. Desci para o 1º piso para ver a área principal. Infelizmente quando cheguei a briga dos robôs maiores já havia terminado, eu só vi do 2º piso, mas a arena menor ainda estava recebendo novos combatentes. Fiquei surpreso ao descobrir que briga de robô e corrida de drone já são tratados como esportes profissionais, com competições sérias e patrocinadores. Já não é mais algo curtido só por geeks e aficionados por tecnologia.





Consegui acompanhar uma corrida de drone de perto! Esses drones foram construídos do zero, não são como esses usados em entregas e filmagens, não, esses foram feitos para competirem em circuítos profissionais, embora, como dito pra mim por um dos competidores, esses não fossem os melhores drones que eles podiam fazer.



Se eu tivesse que descrever o que eu vi, diria que drones são como moscas gigantes. Essa foi a primeira vez que eu vi um drone em ação com meus próprios olhos. O zumbido ecoava pelo circuíto, e as máquinas iam de 0 à 100 em um abrir e fechar de olhos. Eu não quero nem imaginar uma coisa dessas atrás de mim.

Um detalhe que me chamou a atenção foi na idade de dois dos participantes: um era uma criança, e outro já era um senhor de idade. Pelo que me foi dito, o menino tinha 9 anos e já era uma fera nas competições de drones. O pai dele construía, e ele pilotava. Mais uma vez me peguei pensando como essas novas modalidades de esportes eletrônicos em geral consegue quebrar barreiras de gênero e idade, permitindo que qualquer um participe.



Consegui conversar com um dos participantes dessa etapa de aquecimento. Infelizmente não consegui recordar a conversa, e nem o nome completo dele - a foto, como podem ver, saiu ruim - por isso chama-lo pelo sobre sobrenome que ele me deu, Vieira.

Ele me mostrou o drone e o controle usado na competição. Ele me explicou que o controle é universal, e controla diversos tipos de veículos RC, como barcos e carros, basta sintonizar a frequência com a do controle. Pergunte como eles sabiam para onde o drone ia, já que os aviõezinhos se deslocavam em alta velocidade e se afastavam demais da área de largada. Ele me deixou o óculos dele, que tinha uma tela que mostrava as imagens captadas pela câmera na dianteira do drone. Realmente, tudo muito engenhoso, pena que eu não pude vir no dia da competição que era no domingo. Sucesso pra vocês!

Uma última olhada, antes de partir



Os diversos stands e oficinas do 1º piso estava recheados de projetos de professores e estudantes. Meu horário curto me impossibilitou de conferir todos com calma. Dois que me chamaram mais a atenção foi um projeto de uma luva que tinha um sensor em cada dedo. Quando movimentado, o sensor acionava um motor dentro da caixa de madeira, que puxava o fio correspondente, e assim movia a mão mecânica. Pense nisso como uma espécie de marionete wireless.



Esse outro projeto era de uma professora da UERJ, que construiu um drone utilizando materiais reciclados. Quando o circuito da bateria de 9V era fechado, os motores de carrinho giravam e assim giravam os pirocópteros, o suficiente para levantar as quatro latas de alumínio vazias. A professora me contou que o objetivo era explicar na prática o funcionamento de circuitos abertos e fechados. 

See you next time


Eram quase 19 horas da noite, eu tinha ir até o terminal do BRT e pegar o meu ônibus. Me despedi do Hacktudo com muitas boas memórias e sensação de dever cumprido. Até pouco tempo eu não conseguia esse evento e nem a Cidade das Artes, então esse trabalho de faculdade acabou sendo um passeiro turístico também. Não tenho do que reclamar, achei o espaço muito bem organizado e divertido, haviam muitas áreas makers onde pessoas podiam por a mão na massa e ajudar a construir parte da exposição, ou deixar sua marca no evento. Acho que esse é o grande ponto de discussão da tecnologia e da arte, não deve ser algo restritivo, devemos democratizar e abrir portas para todos os públicos terem acesso. Fui muito bem recebido na bilheteria pelo pessoa da imprensa, em poucos minutos eu já tinha a minha pulseira. Não pude ir ao dia 27, mas da próxima vez eu irei aos dois dias.


O Hacktudo, festival de cultura digital, já rola faz 5 anos, e as perspectiva é de aumento no número de visitantes. Se você curte robótica, programação, computação, cultura geek em geral, o Hacktudo traz tudo isso e um pouco mais para você a sua família. Se você quer aproveitar tudo isso, o Hacktudo já está confirmado para acontecer mais uma vez em Outubro de 2020 na Cidade das Artes, então se registra no site oficial para não perder as datas do evento e das novidades. Até a próxima!




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