Border Down é um curioso jogo de nave com uma mecânica bastante peculiar. Conheça essa joia obscura do Dreamcast na análise à seguir
Entre os meus gêneros de jogos favoritos, os jogos de nave reinam supremos em primeiro lugar. É um tipo de jogo bastante fácil de simplesmente iniciar e jogar uma partida sem muito compromisso, e ainda ter um bom nível de desafio para manter o jogador sempre engajado. Eu cresci jogando jogos de nave clássicos como Galaga, Gradius, Star Force, Astro Warrior e outros da era 8 Bits, e por essa razão eu sempre torci o nariz para as versões mais atuais desses jogos. Porém, vasculhando as profundezas da biblioteca do Dreamcast eu descobri Border Down, um shoot-em'-up que uni muito bem elementos tradicionais e modernos do gênero.
Border Down (ボーダーダウン) é um shoot-em'-up com visão horizontal desenvolvido pela G.Rev, estúdio japonês formado por ex-funcionários da Taito. A primeira versão foi lançada em 25 de abril de 2003 para os arcades que usavam a placa NAOMI da Sega, recebendo um port para o já abandonado Dreamcast em 25 de setembro do mesmo ano. Isso faz de Border Down um dos últimos títulos lançado oficialmente para o Dreamcast, com direito à edição limitada de colecionador também.
--Gameplay--
Border Down é bem old-school: você inicia uma fase quase que automaticamente, se movimenta em quatro direções apenas, não há power-ups, você atira em tudo que s emove, bater nas paredes do cenário te mata, e não há sistema de "sangue" - um dano e você perde uma vida, perdendo todas as vidas é Game Over.
O jogo se passa em um cenário futurista, séculos após a raça humana ter colonizado Marte. Quando alienígenas hostis começam a atacar a base no planeta vermelho, as forças protetoras entram em ação com um novo tipo de espaço-nave capaz de ser controlada remotamente. O jogador assume o papel de um piloto que controla uma dessas naves de longe.
No comando da nave o jogador pode segurar o botão A para abrir fogo com um sucessão de tiros que seguem em linha reta. Pressionar o mesmo botão com pequenas pausas inicia o modo de tiro guiado, que automaticamente mira nos inimigos na tela e os acerta. O ruim disso é que isso dispersa os tiros do canhão principal, o que reduz a força das suas armas. O ideal é utilizar os tiros espalhados para grupos de inimigos fracos, e o tiro concentrado para um único inimigo ou obstáculo maior e mais resistente.
Esses dois modos de disparo podem ser alternados na hora, dependendo de como você pressiona o botão A. A quantidade de tiros guiados disparados pela sua nave é proporcional á velocidade do seu dedo, então não tenha medo de apertar rapidamente. Esse estilo de jogabilidade dá ao jogador bastante flexibilidade em como ele pode se defender e atacar as naves inimigas.
Ao destruir inimigos e ganhar pontos, você aumenta a sua barra de "Laser level". Esse canhão-laser é a sua arma mais poderosa, e se usada estrategicamente em momentos difíceis, pode te tirar de uma fria. Ao completar essa barra uma vez, você ganha 1 nível, sendo o máximo 5 níveis. Os níveis não aumentam a força do seu laser, mas te permite disparar ele por mais tempo, basta pressionar e segurar o botão B para disparar. Você precisa ter completado no mínimo uma barra para pode utilizar o mega laser. Ele é bastante útil em chefões, que geralmente disparam para todos os lados, transformando Border Down em um verdadeiro Bullet Hell. Ao gastar todo o seu laser, seu tiro concentrado ficará mais fraco por um tempo, tome cuidado.
Eu disse que não existem power-ups nesse jogo, mas as vezes o jogo te dá a chance de pegar essas esferas laranjas que automaticamente preenchem uma grande parte da sua barra de Laser Level. Eu não consigo chamar essas esferas de power-ups porque a função delas é só isso mesmo, e elas quase sempre só aparecem após você perder uma vida, como se o jogo estivesse te dando uma ajuda por você não poder mais destruir inimigos comuns para preencher sua barra de Laser Level.
Se você ficar preso numa chuva de tiros, boa sorte! Você pode tentar desviar de tudo alternando a velocidade da sua nave entre três níveis com o botão X. Geralmente o nível 2 já é o suficiente, mas tem partes onde o nível 3 possa ser necessário para escapar de muitas balas, e outras onde o 1 o mais indicada para corredores estreitos.
Eu simplesmente não suporto a movimentação nesse jogo. Apesar do Dreamcast ter um direcional analógico, por alguma razão o port desse console foi programado para utilizar apenas um D-Pad do controle. Isso te limita à quatro direções apenas, o que também é muito lento, pois o seu dedo não consegue se mover de um botão para outro tão rápido assim. Não se esqueça de mapear o D-Pad no analógico do seu controle no seu emulador de Dreamcast favorito antes de jogar esse jogo.
--Sistema de bordas--
Vamos falar da parte que dá nome ao jogo. O sistema de bordas é uma mecânica de progressão de fase que combina vidas com dificuldade. Ao iniciar uma fase, o jogo te pergunta em qual "borda" você quer iniciar: a verde é indicada para jogadores iniciantes, a amarela para intermediários, e a vermelha oferece a maior dificuldade. Isso totaliza três vidas por fase e só. Ao morrer, você automaticamente reinicia no último checkpoint na borda "abaixo". Você pode desbloquear Continues ao jogar e passar de fases, mas eles são raros. Game Over nesse jogo é Game Over sem chance de salvar em que fase você parou.
Agora, apesar de interessante, deixa eu explicar o porque, na minha opinião, esse sistema de bordas é o maior erro de Border Down: isso desbalanceia o jogo inteiro! A maioria dos jogadores obviamente irá querer ter mais vidas, então eles vão começar na borda verde, que é a mais fácil. Porém, ao perder uma vida, o jogador é punido sendo enviado para uma versão mais difícil da sessão onde ele estava - e olha em algumas áreas variam muito no level design dependendo da borda.
Um jogador iniciante ou ruim será constantemente enviado para versões sempre mais difíceis das fases, o que irá matar ele mais rápido e terminar a partida sem chance de continuar. Um jogador habilidoso dificilmente perderá uma vida, e ficará preso na borda verde, onde as coisas são mais desinteressantes para ele.
O produtor Hiroyuki Maruyama queria fazer um jogo no estilo de Metal Black (1991) da Taito, mas o orçamento do estúdio recém-formado era baixo. Esse sistema de bordas deve ter sido a ideia de gimmick para dar à Border Down uma característica para se destacar nos arcades. Mas oh boy, a recepção do jogo ainda no arcade foi bem mista. Definitivamente os jogadores não gostaram de perder fichas nessa máquina. A versão do Dreamcast corrige algumas coisas: de início você não precisa comprar fichas para continuar jogando. Você também pode mudar a dificuldade geral no menu de configurações do jogo. Essa versão ainda trás modos de Treinamento e um Modo Remix, com as fases do arcade com esquema de cores diferente, posição de inimigos novas, e novas trilha sonora.
--Vale a pena jogar?--
Na minha opinião, sim. Border Down não é o meu jogo de nave favorito, mas dentre os shoot-em'-ups modernos, está entre os que eu mais curto. O gameplay básico, somado ao cenários e inimigos repetitivos podem não ter muito à oferecer para a maioria dos jogadores, mas o sistema de progressão pode dar horas de desafio para os mais aficionados pelo gênero. Se você gosta de jogos estilo Bullet Hell e jogos de nave ultra difíceis e obscuros, experimente Border Down, ele só foi lançado no Japão e o port do Dreamcast é a única conversão caseira que esse jogo recebeu.
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