Fragmentação dos serviços aproxima o streaming da antiga TV à Cabo
Esse ano ano de 2020 foi simultaneamente o maior e mais demorado ano da vida de muitas pessoas, mas entre tantas mudanças e bizarrices ocorridas durante esse período algumas coisas positivas aconteceram na minha vida. Como eu e minha família passamos mais tempo em casa, resolvemos assinar um serviço de streaming para nos entreter com algum filme ou série de vez em quando, então assinamos o Amazon Prime Video - pois era o mais barato. Essa foi a primeira vez que eu assinava um serviço do tipo, o que me fez ter curiosidade para investigar mais ofertas disponíveis nesse extenso mercado que só cresce mais à cada ano - e após perder acesso à filmes da Disney, Marvel e do Jim Carrey em poucas semanas de uso, eu acredito que a situação do streaming possa estar se tornando cada vez mais complicada.
A popularização do Netflix e outros serviços de streaming pelo Brasil e mundo transformou a forma como nós consumimos conteúdo e a mídia televisiva, trazendo para as telas inteligentes das pessoas uma forma mais barata e prática de consumir filmes e séries. E com o aumento no número de pessoas dentro de suas casas em virtude da pandemia de COVID-19, as assinaturas dessas plataformas tiveram um crescimento expressivo em 2020. De acordo com dados levantados em uma pesquisa da empresa de monitoramento de streaming Conviva, a audiência desses serviços audiovisuais cresceu 20% durante os primeiros meses da pandemia. E esse mercado com tanto potencial tem atraído cada vez mais concorrentes para a disputa, com cada estúdio agora querendo ter sua própria fatia desse bolo. Se anos atrás podíamos investir alguns reais mensais para ter acesso à uma extensa biblioteca de filmes e séries na Netflix, a situação atual revela um mercado saturado de opções diferentes, mas todas igualmente desejáveis, e é aí que os problemas desse modelo de negócio começam a surgir.
Mercado fragmentado
Quando a Netflix e outros serviços de streaming on-demand surgiram no mercado há cerca de uma década atrás, a acessibilidade e flexibilidade eram os pontos chaves que os tornavam mais atrativos do que os infames pacotes de TV à cabo. Atualmente, o pacote mais barato de TV por assinatura é o Fácil HD da Claro TV, por R$ 80,00 reais mensais e mais R$ 60,00 reais pela instalação, que só oferece 10 canais, em que apenas 4 destes são canais realmente fechados. Para ter acesso aos canais realmente interessantes, você teria que contratar o pacote Top HD que custa R$ 139,00 por mês. Em contraste, o plano mais caro da Netflix é R$ 45,90, e o Amazon Prime Video continua custando apenas R$ 9,90. Porém, em razão do aumento de serviços de streaming no mercado, conteúdo que antes era encontrado em um único lugar foi distribuído entre várias plataformas concorrentes. Se o seu interesse é assistir séries como Mr. Robot e The Boys, só estão disponíveis no Prime Video. Stranger Things você só encontra no Netflix; o reboot de The Animaniacs só se encontra no Hulu, e com a chegada do Disney+ ao Brasil em novembro, o catálogo de filmes do vasto leque da gigante do cinema foi removida das demais plataformas concorrentes, o que inclui conteúdo das franquias Star Wars e heróis da Marvel.
A perda de conteúdo para outras plataformas forçou o investimento em novo material para preencher esses espaços vazios nos catálogos. Mas esse aumento de gastos com produções originais se reflete nos preços dos serviços: Netflix quando chegou no Brasil em 2011 custava R$ 15,00 por mês, hoje o preço do plano básico não sai por menos de R$ 21,90 após anos de reajustes. O aguardado Disney+ chegou no Brasil custando R$ 27,90, um preço de entrada considerado alto demais em comparação com outras plataformas mais maduras e com conteúdos mais diversificados.
Streaming vs Pirataria digital
O combate da indústria de entretenimento à pirataria tem sido muito conturbada ao longo das décadas de 90 até o final dos anos 2000, com sistemas de anti cópia como o infame SecuROM da Sony, e tentativas fracassadas de limitar acesso à filmes e séries como o Flexplay. Mas com a rápida adoção de serviços de streaming pelas massas parecia que a solução para pirataria havia sido encontrada. De acordo com pesquisa da Sandvine, tráfego nas redes Bittorrent nos EUA caiu de 52% para 27% entre os anos de 2011 e 2015, na Europa a queda foi maior, indo de 60% até 21% no mesmo período. Mas o que se observa no cenário atual é uma retomada na procura por conteúdo audiovisual nessas redes paralelas. O mesmo relatório de 2018 já revelava essa tendência de recorrência à pirataria, com a transferência em redes BitTorrent aumentando em 31,73% em relação ao ano anterior. O uso dessas redes se dá para o consumo de conteúdo que não está presente nas plataformas que o usuário já assinou, seja por contratos de exclusividade, ou indisponibilidade na região onde o consumidor mora.
A tendência do mercado é seguir pelo meio digital, com cada serviço de streaming erguendo uma muralha virtual em torno de si. Isso tem o efeito de que muitas vezes o conteúdo produzido exclusivamente para esses meios não chega a ser lançado em mídia física, como DVD e Blue-Ray, por essa razão a pirataria digital acaba sendo a única saída para algumas pessoas consumirem esses filmes e seriados. Caso você quisesse assistir séries de sucesso como Game of Thrones da HBO Go, House of Cards da Netflix, Jack Ryan da Prime Video, o The Mandalorian e outras séries Marvel da Disney+, e mais te acesso à programação original da Globoplay, teria que desembolsar R$ 117,50 por mês, e isso contratando apenas os pacotes básicos quando disponíveis em cada plataformas. Esse valor já bota o mercado de streaming próximo dos antigos pacotes de TV à cabo, quando você era obrigado à pagar mais para ter acesso aos melhores canais.
Movimentos do mercado
Vendo o problema da pirataria digital emergindo novamente, especialmente após a crise econômica ocasionada pela pandemia de COVID-19, algumas empresas começaram a fazer algumas mudanças nos seus serviços para tornar as propostas mais convenientes. O Amazon Prime Video introduziu o serviço Amazon Prime Channels, que chegou ao Brasil em setembro de 2020. A proposta é de dar acesso a diferentes canais e conteúdo extra de outros estúdios dentro da mesma plataforma e com um pequeno adicional na assinatura. Combos e parcerias com outros serviços também estão sendo negociados, como o serviço Gamepass Ultimate da Microsoft oferecendo 1 mês de Disney+ grátis, uma recompensa curiosa visto que o Disney+, diferente do Netflix, não oferece nenhum tipo de teste gratuito. Disney, após oficializar a compra do Hulu da Comcast em 2019, tomou controle sobre a plataforma rival, e atualmente oferece um pacote com Disney+ e Hulu para assinatura. O serviço Pluto TV da americana ViacomCBS agrega vários programas diferentes e canais ao vivo em um formato mais tradicional como nas TVs comuns, além de filmes e séries on demand, mas sem exigir assinatura ou conta, a renda é gerada via intervalos comerciais como nas emissoras de TV tradicionais.
Um futuro cada vez mais interligado
É preciso manter em mente que o que levantou Netflix e o mercado de streaming de vídeo foi sempre a conveniência de ter acesso a uma vasta biblioteca de filmes e séries sem precisar retornar nada, pagando pouco e sem multas de atraso. A fragmentação desse segmento do mercado de entretenimento chega justamente em um momento em que outras áreas da tecnologia passam por uma homogeneização dos produtos, com usuários cada vez mais demandando compatibilidade e ligação entre as plataformas, seja com a integração de app de iPhone nos novos Macs com o chip M1, suporte nativo para programas Linux e Android no Windows 10, e implementação de interfaces de usuário e funções similares entres diferentes redes sociais, como o Stories do Instagram, que logo foi adotado por Facebook e YouTube. Um projeto do Google que teria vazado em agosto do ano passado é da criação de um hub para agregar todos os serviços de streaming mais populares em um só lugar, apresentando todo o conteúdo sob uma mesma interface.
Vamos torcer para a conveniência para o usuário vença ao invés da ganancia separatista que as empresas vem forçando nos últimos anos, ou o mercado de streaming poderá quebrar e a pirataria reinar mais uma vez.
Quanto mais fragmentado fica, maior é o incentivo para voltar a piratear as coisas...
ResponderExcluirHey,
ResponderExcluirThanks for sharing this blog its very helpful to implement in our work
Regards
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