Alex Kidd, o primeiro mascote da Sega

 Abandonado pelos seus criadores, mantido pelos fãs. Uma retrospectiva da história do primeiro mascote da Sega

 

Bem antes da japonesa Sega estrear para o mundo o Sonic como a sua nova cara hip & cool com os jovens dos anos 90, outros personagens passaram pelo cargo de representantes da empresa. Dentre esses personagens que precedem o ouriço azul aquele que mais se destacou foi o orelhudo socador de pedras Alex Kidd. Embora esquecido para a maior parte da comunidade gamer global, o legado da franquia se mantém graças à fãs dedicados, principalmente no Brasil. Vamos então re-ver os principais títulos do orelhudo comedor de onigiri e as novidades feitas pelos fãs nos últimos anos. Isso não será uma análise técnica da qualidade de cada jogo, apenas um passeio pela história.

Antes mesmo do Alex...

Sega, de Service Games, tem suas origens já no mercado de máquinas de entretenimento eletromecânicas desde a década de 40. Por meio de aquisições e fusões a Sega se firmou em solo nipônico, onde estabeleceu vários fliperamas de sucesso, como Monaco GP (1979) e Zaxxon (1982). Ainda nessa época em que a Sega era puramente uma empresa voltada para o mercado de fliperamas, alguns personagens de máquinas que se destacavam mais chegaram a ser utilizados não exatamente como mascotes, mas fazendo pontinhas em outros jogos. 

Alguns historiadores dos games alegam que a nave Opa-Opa de Fantasy Zone (1986) foi o primeiro mascote da Sega, mas na minha opinião não foi o caso. Opa-Opa fez aparições especiais em alguns outros jogos publicados pela Sega, ao lado de outros personagens, como Teddy Boy, Flicky, Bin e Pin de Dynamite Dux (1988). Essas aparições geralmente eram nas conversões feitas para o Master System e o Mega Drive, como easter eggs.  A tela de sound test secreta de Quartet do Master System até mostra uma animação com essa galerinha e mais o cavaleiro Egle de Pit Pot (1985).

 



Alguns desses personagens mais tarde foram incorporados aos jogos do Sonic, como o Flicky se tornando um dos amigos animais que o Sonic liberta dos robôs,  e Bean the Dynamite de Sonic the Fighters  (1996) sendo inspirado nos pinguins de Dynamite Dux.

Por terem suas origens em máquinas de arcade, esses personagens eram simples demais. Quando a Sega entrou de vez no mercado de consoles domésticos com o SG-1000 em 1983 ela sabia que precisava de um mascote realizado para competir com o Mario da Nintendo, que já ganhava tração naquela época. Infelizmente o SG-1000 não era poderoso o suficiente, seu hardware mais se assemelhava ao consoles ocidentais da 2ª geração, como o Colecovision. O console não conseguia nem realizar conversões semi decentes dos arcades mais populares da Sega, por causa da paleta de cores limitada e dificuldade de movimentar os cenários na tela. Foi só em 1985, com o Sega Mark III, ou Master System, que a Sega pode criar um rival à altura do Mario.

A primeira aventura


Alex Kidd in Miracle World foi lançado para o saudoso Master System em 1986. Idealizado pelo game designer Ossale Kohta o jogo combinava elementos de plataforma e RPG para tornar a experiência mais imersiva e rejogável. Além de pular e dar socos para destruir pedras e abrir caixas de itens, Alex podia usar artefatos que davam ao jogador melhorias de combate, vantagens contra os chefes, power ups temporários, e até mudanças de gameplay. Outrora Alex andava de jet ski, helicóptero,  pilotava moto, e tinha fases subaquáticas que radicalmente alteravam o modo como o jogador interagia com o jogo.


O jogador também era incentivado à buscar saídas secretas nas fases, algo parecido com o que Super Mario World aperfeiçoaria anos mais tarde. Essas saídas secretas levavam o jogador para fases alternativas que se desviavam do progressão natural do jogo.

A história também era algo mais importante, diferente dos seus contemporâneos. Durante o gameplay Alex encontra NPCs que explicam um pouco mais sobre a história. O enredo conta que no planeta Aires o garoto chamado Alex Kidd, estudante da disciplina Shellcore, certo dia desceu do Monte Eterno após receber uma revelação de que o Reino de Radaxian corria perigo pelas mãos do terrível Janken. Com um amuleto em formato de Sol e parte de um mapa, Alex parte em direção ao Miracle World para salvar seu reino e as pessoas enfeitiçadas.  O enredo é um pouco mais elaborado do que isso, mas essa é uma sinopse geral. 


 

Não é Shakespeare, mas para a época não era comum um jogo de plataforma ter uma narrativa tão envolvente, ainda mais com diálogos acontecendo durante o gameplay. Acredito que toda essa história elaborada seja um resquício do seu desenvolvimento, porque Alex Kidd in Miracle World não era pra ter sido lançado com esse nome e personagens. 

Isso mesmo, o jogo começou o desenvolvimento em 1984 como um jogo baseado no mangá Dragon Ball, e você já deve ter reparado muitas similaridades entre esse primeiro jogo do Alex com a obra de Akira Toryama, especialmente com o uso de Pedra Papel Tesoura para enfrentar os chefes -  algo que acabou se tornando parte da identidade de Alex Kidd. Acontece que a licença de Dragon Ball expirou durante o desenvolvimento do jogo, então Hayao Nakayama , o CEO da Sega na época, ordenou que o jogo recomeçasse do zero, removendo os personagens licenciados da Shonen Jump.

A trilha sonora foi feita por Tokuhiko Uwabo, que também trabalhou em outras IPs da Sega, como Phantasy Star e Sonic. A música tema da primeira fase é certamente o aspecto mais memorável deste jogo, se tornando o tema principal do Alex Kidd em aparições futuras.

Só eu que tinha medo do Janken?

 

Este primeiro título sofre um pouco com controles e física escorregadia, levando tempo para se acostumar. Ainda assim, Miracle World foi o jogo mais bem recebido dessa franquia. Nada mal para um primeiro jogo, mas daqui pra frente as coisas se desandam um pouco.

Outra curiosidade: Egle, o cavaleiro de Pit Pot, é o irmão de Alex Kidd. Sendo assim, Pit Pot é uma prequel de Alex Kidd in Miracle World.

"Aaahh!!" é o Alex Kidd With Stella: The Lost Stars de 1986!



Ainda no mesmo ano da sua estreia no console caseiro da Sega, Alex Kidd recebeu seu primeiro título para os fliperamas, The Lost Stars. Por ser um jogo feito para dois jogadores simultâneos, o segundo jogador assume o controle da Stella, a namorada de Alex. Esse é o detalhe mais notório desse jogo, pois fora isso, ele é um jogo de plataforma bem simples. Quando o Alex leva dano, ele grita "Aaahhh!!!", o que é particularmente irritante na versão de Master System, pois assim como na conversão de Bonanza Bros. o jogo precisa congelar um uns instantes para tocar o sample do gritinho do guri. É nisso que eu penso quando eu lembro desse jogo. Jogue a versão de arcade, evite a do Master.

Encarte original da máquina com as instruções
 

A versão de arcade utilizava a placa Sega System 16A, que também deu vida para outros jogos famosos como Action Fighter (1986), Fantasy Zone (1986) e Shinobi (1987). Ah, e o Opa-Opa faz uma pontinha na transição de fases da versão de arcade.



De volta ao lar com BMX Trial de 1987


 

Sério que tu acha que Sonic é a franquia mais inconsistente da Sega? Esse é o terceiro jogo do Alex Kidd e o terceiro estilo de gameplay e tom. A franquia ficaria conhecida por experimentar com diferente gêneros e estilos de jogo daqui pra frente. Alex Kidd BMX Trial é um jogo de corrida de bicicleta lançado para o Master System em 1987, mas somente no Japão. O jogo utilizava um controle especial em formato de válvula que vinha junto com o cartucho.

O jogo é até bem divertidinho, me lembrando Zippy Race do Nintendinho. Um detalhe legal desse jogo é que ele é compatível com  o Sega Mark III FM Sound Unit, que permitia o jogo ter uma trilha sonora mais elaborada.

High-Tech World de 1989


 

Após dois anos sem nada de Alex Kidd numa época em que desenvolvimento de jogos era relativamente simples, a Sega ordenou uma reskin de um jogo que até então só havia sido lançado no Japão para o Mark III, o Anmitsu Hime (あんみつ姫), um jogo de quebra-cabeças e exploração sem combate baseado no mangá de mesmo nome. A versão ocidental substitui os sprites pelo Alex Kidd e alguns outros detalhes pelos cenários, mas a ambientação permaneceu a mesma, o que contrasta bastante com a lore estabelecida pelo primeiro jogo. Mas ei, a esse ponto é bem consistente de Alex Kidd ser inconsistente.

O enredo foi alterado para o Alex vasculhando o castelo de Radaxian em busca dos pedaços do mapa que leva para o fliperama High-Tech World. Porque o Alex quer muito experimentar os novos jogos da Sega que chegaram lá. O jogador que explorar o castelo, falar com NPCs e resolver quebra-cabeças para encontrar todos os pedaços do mapa antes que dê o horário do trem partir de tarde. Eu recomendo fortemente que você jogue a ROM Hack com a tradução em português, ajuda demais à vencer esse jogo.

Quando que isso acontece no jogo?!


Fica claro que à esse ponto a Sega já não sabia o que fazer com esse personagem, olha só para  a capa americana do jogo. O Master System não estava emplacando nos Estado Unidos, então aqui eles já deviam estar finalizando o hardware do Mega Drive, que durante a produção era apelidado de Sega Mark V.

A estreia no Mega Drive


Ainda em 89 o orelhudo fez a sua estreia no console de 16 bits da Sega. Depois de enrolar por 3 anos a franquia retorna ao formato do primeiro jogo em Alex Kidd in the Enchanted Castle. O enredo pega o gancho do final do jogo de 86 e abre com o Alex ouvindo um rumor de que o seu pai, o Rei Thunder, está vivo.  Alex viaja para o planeta Paperock em busca de notícias do seu velho.

As mecânicas de Miracle World estão todas de volta: os itens consumíveis que aumentam as habilidades do Alex e mudam o gameplay; dar socos para matar inimigos e quebrar obstáculos; a loja de items; pedra papel tesoura contra os chefões. As novidades desse jogo são que Alex tem que vencer duas partidas de pedra papel tesoura para levar os itens que comprou nas lojas, e Alex dá um chute no ar quando pula, e pode dar socos agachado.

Tem quem goste desse jogo, tem que não goste. Eu não gosto, acho um dos mais fracos da franquia. Mas vou dar um desconto por ser um dos primeiros jogos lançados pro Mega Drive. Mas fica claro que em 89 o Alex Kidd já estava gasto, não havia entusiasmo na Sega para continuar essa serie de jogos. Parece que ter Alex Kidd no Mega era só uma formalidade, apenas mais um jogo para encher a lineup inicial do console. Pelo menos esse jogo concluiu a historia que começou em Miracle World, com Alex descobrindo que seu pai havia sido coroado rei do planeta Paperock. Agora as pessoas do planeta Aires e Paperock são amigas.

Um spin off até que legal, Shinobi World de 1990

Com a virada da década o orelhudo retorna ao console 8 bits em Alex Kidd in Shinobi World. À esse ponto a Sega já estava trabalhando à todo vapor para revitalizar o seu branding no ocidente com o Sega Genesis nos EUA e a criação de um mascote adequado para essa nova era. Esse foi o fim do Alex Kidd, simplesmente deixado de lado sem muito alarde. Pelo menos ele foi embora com estilo.


 

Como explica o nome do jogo, nesta aventura Alex foi lançado no universo de Shinobi (1987) para derrotar o Ninja Sombrio Hanzo, que sequestrou a sua nova namorada (ele terminou com a Stella?). O espírito do antigo guerreiro toma o corpo do guri, lhe concedendo todas as habilidades de um mestre ninja - ele pode fazer wall jump, pode se transformar em bolas de fogo ao balançar em postes e barras, e utilizar armas ninjas, como katanas, kunais e shurikens. Seus adversários são todos apropriadamente os mesmos inimigos de Shinobi, mas todos cartunizados para se encaixar na vibe de paródia desse jogo.

Ainda assim, Alex Kidd in Shinobi World é um ótimo jogo de plataforma e ação, e na minha opinião, um dos melhores jogos da biblioteca do Master System. São ao todo 12 fases, todas desafiantes, mas sem o bs dos controles de Miracle World ou o jank de Enchanted Castle. Não, nesse jogo os controles são bem precisos e ele é uma delicinha de se jogar. Minha fase favorita é a da cidade, quando os ninjas pulam da água, e quando o Alex tem que destruir os blocos com o ataque da bola de fogo.

"Kid Shinobi" era pra ser uma paródia de Shinobi


Uma curiosidade sobre esse jogo é que, assim como High-Tech World, Shinobi World não era para ser um jogo do Alex Kidd. Em 2007 algumas scans de revistas antigas (foto acima) revelaram que durante o desenvolvimento o jogo era para ser uma paródia fofinha de Shinobi chamado "Kid Shinobi". As fotos revelam um design diferente para o protagonista e o primeiro chefão, que na beta era uma paródia do Mario da Nintendo. Você pode confirmar isso na versão final do jogo, na luta contra o chefão Kabuto, quando a vida dele chega no final ele fica pequenininho e ataca com bolinhas de fogo.

Após o ouriço azul...

Em 1991 o primeiro Sonic the Hedgehog foi lançado para Mega Drive, com uma conversão muito boa para o Master System e o Game Gear saindo pouco tempo depois. A Sega iniciava a sua nova e agressiva estratégia de mercado, e não havia mais espaço para os antigos mascotes das décadas anteriores. 

Agora que eu pude analisar melhor a história da franquia Alex Kidd eu percebo que o personagem era quase uma anomalia na Sega -  ele é obra do acaso, muitos dos seus elementos são atribuído ao projeto cancelado do jogo do Dragon Ball, o que explicaria porque o primeiro jogo é tão bom. Depois disso o personagem foi usado pela Sega em projetos não relacionados, sem quaisquer atenção para a qualidade ou coesão. Alex Kidd nunca pode crescer uma identidade própria, ele era o cara que pulava de universo para universo, sempre em situações diferentes. Essa situação me lembra o modo como o próprio Sonic foi tratado pela Sega por muitos anos, se mantendo relevante apenas porque seus fãs são muito dedicados.

Após a popularização do Sonic, o legado de Alex Kidd foi mantido na forma de relançamentos. Infelizmente o Master System nunca foi um console muito popular nos EUA e no Japão, não tanto quanto no Brasil e Europa, e não haviam jogos dos Alex para o Game Gear. Por isso, Enchanted Castle - talvez o pior jogo do Alex Kidd - acabou sendo o jogo mais relançado nas trocentas coletâneas do Mega Drive lançadas pela Sega. Miracle World e Shinobi World foram relançados para o Virtual Console do Wii, mas com a desativação do serviço do Wii Shop Channel, não há maneiras legais de jogar esses jogos.

O orelhudo também daria as caras em alguns jogos publicados pela Sega durante os anos seguintes, geralmente jogos em que vários personagens do catálogo da empresa se juntavam para algum evento esportivo. As participações mais notáveis do Alex após o fim dos seus jogos são:

 


Segagaga: nesse bizarro "simulador de Sega" criado pelo estúdio Hitmaker e lançado para o quasi-morto Dreamcast somente no Japão, em março de 2001, assumimos o papel de um programador estagiário  chamado Sega Taroh na missão de criar um jogo que irá salvar a empresa da falência. Meta comentários à cerca da situação deplorável da Sega no início dos anos 2000 à parte, nesse RPG podemos interagir com diversos personagens da Sega, que no universo do jogo são tratados como atores, que tem uma vida inteira fora dos videogames. Um desses personagens é o Alex Kidd, que conta o que aconteceu com ele após o Sonic tomar o trabalho dele como mascote da Sega. É emocionante para fãs do orelhudo, e acredito que é uma das poucas vezes que a Sega confirmou que o Alex foi de fato o mascote da empresa e disputava contra o Mario.


 

Sega Superstars Tennis: Alex Kidd é um dos personagens desbloqueáveis desse jogo de 2008. Infelizmente ele não tem nenhum minigame baseado nos seus jogos, como os demais personagens principais. O especial dele é uma referência às disputas de pedra papel tesoura de Miracle World, toca até um trecho da música tema do Mt Eternal quando o especial é acionado. Quando o oponente rebate a bola um peso cai em cima da cabeça dele, fazendo uma referência à penalidade do pedra papel tesoura do Enchanted Castle. Esse jogo marca a primeira vez que temos o Alex Kidd dublado em inglês. Eu pesquisei mas não encontrei quem foi a dubladora dele nesse jogo.



Sonic & Sega All-Stars Racing: Alex Kidd também é um personagem desbloqueável nesse jogo de corrida de 2010. Seu veículo é uma moto, baseada na moto que ele usa em algumas fases em Miracle World. O design do Alex foi modernizado, deixando ele menos cabeçudo. O seu All-Star Move transforma a moto dele no Petitecopter e atira bolas de fogo nos outros corredores a frente. Novamente eu não encontrei quem foi a dubladora dele nesse jogo. 

Sonic & All-Stars Racing Transformed: na sequencia o Alex se manteve como personagem jogável, com a maioria das suas animações e falas reaproveitadas do jogo anterior, mas o seu carro virou uma amalgama dos três veículos de Miracle World.

O retorno inesperado


 

Em junho de 2021 Alex Kidd recebeu o tratamento do Sonic Mania e lançou Alex Kidd in Miracle World DX, para PC e todas as plataformas modernas, reintroduzindo o personagem para toda uma nova geração. Como o nome diz, esse é uma remake completo do primeiro jogo do orelhudo, repaginando os gráficos, o visual do Alex, e mais melhorias de qualidade de vida. O jogo é uma obra de arte feita com muito carinho e atenção pela equipe da Jankenteam, uma iniciativa que começou como fan game, mas recebeu aval da Sega para o lançamento oficial, apesar de ter sido distribuído pela Merge Games.


 

O que eu acho mais impressionante é o quanto do game design do jogo de 86 se manteve nesse remake, e o jogo continua bom demais! Isso mostra que Alex Kidd se encaixa bem no cenário atual de jogos indies, a Sega só precisa ser realista -  ele não vai competir com os triplo A da vida, mas existe espaço para jogos de plataforma mais simples e com orçamento menor como Alex Kidd e Wonder Boy (que nos últimos anos também teve remakes e relançamentos de jogos antigos). Na minha opinião, esse é o melhor jogo do Alex agora, e versão definitiva da sua primeira aventura. Se você quiser experimentar, tem uma demo gratuita com três fases na Steam.

Sequencias feitas pelos fãs

Do lado da comunidade, fãs criaram suas próprias sequencias para Miracle World, ignorando os eventos de Enchanted Castle. Essas sequencias foram feitas por meio da modificação da ROM do Master System, basicamente utilizando a mesma engine de Miracle World, são elas:
 
 


Alex Kidd in Miracle World 2 é uma ROM Hack lançada em 2017 que continua a história do jogo original direto de onde parou. 6 meses após a queda do Janken o irmão de Alex, Egle é coroado rei de Radaxian. Alex sai em busca do seu pai, o Rei Thunder, que continua desaparecido. 
 
Ele refaz os seus passos e vasculha por toda terra do Miracle World em busca de pistas sobre o paradeiro de seu pai. Essencialmente, é mais Miracle World, utilizando os mesmos assets. Se você queria mais fases, essa ROM Hack te entrega isso. A trilha sonora é original, o que é legal. Existem cartuchos dessa Hack, permitindo que você jogue num Master System de verdade.
 

 


Alex Kidd 3: Curse in Miracle World é uma impressionante ROM Hack que utiliza com maestria os recursos do Master System, principalmente a paleta de cores. Se este jogo tivesse saído ainda nos 90, botava muito jogo 16 bit no chinelo! Nesta aventura Alex deve explorar o Reino Nananonami para quebrar a maldição da família real e salvar o Miracle World mais uma vez.
 

 
As referências à Jornada ao Oeste estão mais cara desse jogo, e ajudam o universo do Alex a tomar mais personalidade. Eu acho que tudo se encaixou muito bem, e seria uma boa direção para futuros jogos oficiais.
 

 


Eu tive problemas para iniciar esse jogo no emulador Genesis Plus GX, porque aparecia uma tela preta de "software error". Acredito que Curse in Miracle World não é compatível com a versão da BIOS do Master System que eu uso, porque depois que eu desabilitei ela o jogo iniciou normalmente. Existem diferente versões da BIOS do SMS, é capaz que esse jogo funcione em umas e outras não. A que eu uso é BIOS americana/europeia v1.3, de 1986. Então tome nota disso caso queira jogar em emulador ou no hardware original.

O futuro do orelhudo...

O brilhante remake de Miracle World serve para mostrar para a grande comunidade gamer que existe demanda por retro revivals de jogos antigos dentro da revolução dos jogos indies. Graças à lojas digitais, publishers não precisam gastar com cópias físicas que ocupam espaço real em prateleiras de lojas, e acredito que hoje em dia as pessoas entendem melhor que gráficos e ter um monte de conteúdo não torna um jogo necessariamente melhor. As vezes tudo o que nós queremos é um joguinho mais simples para relaxar.

A Sega pode nunca ter sabido o que fazer com o Alex Kidd nos anos 80, mas permitir um remake do calibre de Miracle World DX foi um acerto em cheio. Eu gostaria de ver  Shinobi World e Enchanted Castle sendo refeitos pela mesma equipe de DX.

E do lado dos fãs, o Alex Kidd se manterá como um ícone do Master System. Uma representação dos primeiros passos da Sega no mercado internacional de consoles. As primeiras investidas da TecToy no Brasil.  As tardes que passamos tentando adivinhar a ordem da última sala de Miracle World, anotando todas as descobertas no papel para novas tentativas futuras. Meu Deus, eu nunca zerei Miracle World, melhor eu remediar isso pra ontem!
 

Referências:

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