Por que algumas pessoas só gostam da 1ª geração de Pokémon?
Pokémon era bom só até a 1ª geração? Os designs dos novos monstrinhos não te agradam? Já ouviu falar nos "Genwunners"? Esse é um termo que eu escutei na Internet muitas vezes, e se você é um fã de Pokémon também já se deparou com pessoas que foram taxadas de "genwunners". Mas o que seria isso? O genwunner é um apelido dado à pessoas que só gostam da 1ª geração de Pokémon, ou seja, só os 151 monstrinhos originais e a série animada original com Ash, Misty e Brock - vamos fingir que o Tracey não existe.
Uma rápida pesquisa no Google inunda sua tela com diversos resultados, então eu acredito que essa parte já está cuidada. Contudo, eu já vi muita gente tirando sarro de genwunner por reclamar dos designs das novas gerações de Pokémon, da qualidade dos jogos, da nova série animada e tudo mais, mas eu não me lembro de ter visto alguém procurando entender porque o genwunner existe? À primeira vista parece ser só mais um caso de gente velha gritando com os jovens e dizendo que na sua época as coisas era melhores, mas eu acredito que o fenômeno do genwunner vá além do puro saudosismo.
Dias atrás eu assisti um vídeo em inglês de uma youtuber que tentou entender a mente o genwunner, e eu achei tão fascinante que eu queria trazer essa lógica para o contexto brasileiro. Sendo uma pessoa que nasceu em 1996, eu acompanhei de perto a chegada e popularização de Pokémon no Brasil, e estive no ensino fundamental no período de baixa da franquia por aqui - quando Pokémon não era "cool".
Eu reuni três pontos essenciais que podem ter influenciado na perda de interesse na franquia Pokémon após o fim da "febre" da 1ª geração no Brasil, e a aversão à nova iterações dos jogos.
O primeiro motivo que eu quero destacar é um que talvez não tenha afetado tanto o brasileiro médio, mas certamente afetou quem jogava os jogos originais na época, que é a incompatibilidade entre os cartuchos da 2ª e 3ª geração. Pokémon sempre teve muito orgulho da ideia de que você poderia levar seu time de um jogo para outro por meio das trocas, e essa ideia foi expandida com a possibilidade de migrar seu time de Red, Blue e Yellow para Gold, Silver e Crystal.
A 2ª geração é bastante peculiar também por ser talvez a mais acessível. Quero dizer que com exceção de Crystal, todos os cartuchos poderiam ser jogados normalmente no Game Boy tijoão e no Super Game Boy do Super Nintendo. A 2ª geração também trouxe a função "Capsula do Tempo", que trazia Pokémon capturados em Gold, Silver e Crystal para os jogos da 1ª geração - com tanto que não tenham movimentos e itens que não existam na 1ª geração e não sejam Pokémon exclusivos da 2ª geração.
Mas com a mudança do Game Boy Color para o GBA, a Nintendo migrou o chipset utilizado para uma nova arquitetura ARM incompatível com a CPU baseada no Zilog Z80 do Game Boy. Não só os jogos de GBA eram fundamentalmente diferentes do jogos da linguagem Game Boy anteriores, como a reformulação do código base introduzido em Ruby e Sapphire pelas mãos da Game Freak fez com que o formato como os Pokémon (monstros) funcionavam era totalmente diferente de como era ma geração 8 bits.
À partir daqui os jogadores não poderiam transferir suas coleções da 2ª geração para a 3ª e dar continuidade no processo. Os jogadores foram obrigado à recomeçar do zero. Não é pra menos que o marketing de Ruby e Sapphire removeu o tema "Gotta Catch'em all!" da capa dos jogos ocidentais - um lema que só retornaria com X & Y, 10 anos depois.
Eu imagino que a barreira de ter que comprar uma GBA, os cartuchos da 3ª geração, e ter que começar de novo fez com que muitos dos jogadores leais desistissem. Eu acho que isso foi uma mensagem ruim que a Game Freak deu na época. Recentemente um grupo de fãs muito dedicado criou uma solução bastante engenhosa chamada Poké Transporter GB, que permite migrar seus Pokémon de um cartucho original da 1ª ou 2ª geração para um jogo da 3ª geração - tudo usando hardware original e sem modificações. É algo tão genial que me faz pensar que a Game Freak poderia sim ter utilizado um método similar à esse para migrar Pokémon do Game Boy para o GBA. Assista ao vídeo abaixo (em inglês) do canal The Gears of Progress para entender melhor como o Poké Transporter GB funciona.
O segundo motivo pode estar relacionado à mudanças na série animada. Após a surpresa da derrota do Ash ao final da 1ª temporada, o anime de Pokémon tomou um rumo inesperado. Ash, Misty se juntam ao novato Tracey para explorar as Ilhas Laranjas, um lugar novo criado só para o anime. Essa decisão foi tomada em virtude no atraso do desenvolvimento dos jogos Gold e Silver, forçando os roteiristas à mandarem o Ash para um arco filler antes de ir para Johto.
Quando a saga de Johto começou pra valer, todo aquele gás da Pokémania dos anos 90 já tinha se esvaído. Ainda era o anime de Pokémon, com Ash, Misty e Brock, com a mesma receita de bolo - para bem e para o mal. A saga de Johto se arrasta por 3 longuíssimas temporadas onde Ash e seus amigos ficam perdidos numa floresta, Ash e Misty brigam pela enésima vez, Brock dá em cima de uma mulher bonita, e a Equipe Rocket tenta pegar o Pikachu.
A falta de uma trama B realmente é sentida aqui, pois não havia muito material relevante para se tirar dos jogos, que ainda engatinhavam no quesito história. Algumas tentativas foram feitas, com aquele arco das Ilhas dos Redemoinhos, e o mistério do "Pokémon X". À esse ponto muitos fãs já haviam crescido e deixado a série em busca de outras coisas. A patética Conferencia de Prata também não ajudou muito, embora o Ash tenha finalmente derrotado seu rival de longa data Gary numa luta completa.
Com a reformulação da série animada em Pokémon Advanced e a saída de Misty do elenco, acredito que muitos desses fãs mais antigos resolveram sair. A morte do roteirista original, Takeshi Shudo, também foi sentida. Ele desde o início foi o coração do anime de Pokémon, responsável pela criação de personagens e história marcantes, como os três primeiros filmes de Pokémon. À partir do quarto filme, Viajantes do Tempo - aquele do Suicune - já dá pra perceber uma queda enorme na qualidade dos roteiros, e criação daquela formulinha do Ash encontrando um Pokémon lendário grande e um mítico menor que seria utilizada em todos os filme seguintes. O último episódio que Takashi Shudo escreveu foi o episódio 244, um pouco antes do início do anime da 3ª geração.
O terceiro e último motivo que eu quero trazer talvez seja o mais simples de todos: as crianças cresceram.
Os anos 2000 no Brasil foi palco para muitas franquias e brinquedos estrangeiros novos chegavam aqui. As cartinhas (ou tazos) de Yu-Gi-Oh! e as Beyblade rapidamente se popularizaram nas escolas de todo o país, por serem bem mais acessíveis. Sem a necessidade de pilhas ou cartuchos originais, e computadores pessoais com Internet banda larga ainda era sonho distante para muitas famílias, esses novos brinquedos - juntamente com suas respectivas séries animadas que passavam nas manhãs da TV Globinho - se tornaram as novas sensações da garotada.
Como que num passe de mágica, Pokémon era coisa de criancinha, e as cartinhas "das trevas" de Yu-Gi-Oh! eram a nova ameaça à santidade da família tradicional brasileira. O que empurra mais as crianças à fazerem algo do que proibir elas de fazer algo? Eu mesmo tive muitos tazos de Yu-Gi-Oh! e inúmeras Beyblades, juntamente com meu irmão e primos. Quem não tinha dinheiro fazia pião com tampinha de detergente, barbante e bacia da mãe.
Pode parecer estranho dizer isso hoje em dia, mas houve uma época em que ser fã de Pokémon não era "cool". Muita gente abandonou a turma do Pikachu e só foi voltar em 2013, com Pokémon X e Y do 3DS, na época que essa geração anos 90 tava entrando na faculdade. Na escola eu só conhecia outro menino que jogava Pokémon da 3ª geração pra cima e ainda assistia o anime, e ele era mais novo que eu, e isso devia ser 2008-9. Isso foi quando aquelas cartinhas piratas de Pokémon chegaram no nosso bairro e traziam os monstrinhos até a 4ª geração.
Essa combinação de fatores - impossibilidade de migrar times da 2ª geração para a 3ª; mudanças no anime; e adolescente buscando se distanciar das coisas da infância - na minha opinião, deu origem ao fenômeno da Internet que chamamos de genwunner. Mas e você? Já conheceu um genwunner na vida real? Ou você é ou já foi um? Conta nos comentários a tua experiência com Pokémon na tua infância.
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